Arquivo mensal: maio 2008

Antagonismos

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Corpus Christi é o feriado do JUCA! … não, vamos recomeçar. Essa fase já passou.

Corpus Christi é uma data adotada para comemorar a presença de Jesus Cristo no sacramento da Eucaristia, pela transformação da substância do pão e do vinho no corpo e sangue do Filho de Deus. Ou algo do tipo. É nesse feriado que os católicos ao redor do mundo participam de procissões e ornamentam as ruas com tapetes moldados com serragem, pó de café, cal, flores e corantes, construindo as imagens da Igreja Católica.

 

É nesse feriado também que São Paulo demonstra toda sua diversidade em dois eventos totalmente antagônicos. Para a metrópole, Corpus Christi é sinônimo de festejos que celebram temáticas que nada têm em comum, a não ser a completa diferença uma da outra. Sim, estou falando da Marcha para Jesus e da Parada Gay. E eu, sem querer, vivenciei um pouco do espírito de ambas. Mas não, meus pezinhos não pisaram na Av. Paulista.

 

Explico: na quinta-feira pela manhã, peguei o metrô rumo à estação Pedro II para aproveitar o feriado no litoral. E me dei conta de que enquanto eu pensava no mar, no sol, na cerveja que me aguardavam, muitos dos meus companheiros de vagão estavam com o pensamento em outros assuntos. Eles iriam participar de um ato pacífico, consciente e excitante do mover de Deus em seus dias.

 

E seus participantes, todos vestidos com camisetas com frases religiosas ou com faixas e dizeres em louvor a Jesus Cristo, seguiam em silêncio ou conversavam em voz baixa. E era justamente nessa cena que eu pensava quando, no domingo do mesmo feriado, entrei no metrô Bresser para voltar pra casa. Esperei uns dois minutos o trem chegar e lá veio ele. Colorido, fantasiado, purpurinado e em alto e bom som. Sim, eu estava prestes a participar do “esquenta” da Parada Gay no metrô.

 

Antenas, tecido lurex, cores berrantes e muita animação me acompanharam da linha vermelha à linha verde. Ao descer na Sé, muita gente, muitos gritos de “UHUUUUUUU”, travestis posando para fotos (e logo pensei que esse é o único evento do ano em que eles deixam de ser seres marginalizados pela sociedade), casais em suas mais diversas composições, jovens, crianças, adultos, idosos.

 

No meio daquela muvuca ouço alguém a cantar um clássico dos Mamonas Assassinas: “Quanta geeeentiiiii, quanta alegriiia…”. Olho para o lado e vejo uma senhora que não sabe pra que lado olhar primeiro, se divertindo a valer com toda aquela situação. Ao chegar na plataforma, me senti num parque de diversões! Eu sabia que o trem se aproximava pelos gritos em saudação ao maquinista, ao meio de transporte que os levaria para a parada, em reconhecimentos dos outros grupos que se aproximavam… enfim, tudo era anunciado aos quatro ventos (ou aos quatro cantos, considerando que, no metrô, o que menos havia era ar…).

 

Dentro dos vagões, se cantarolava de clássicos infantis da Turma do Balão Mágico ao Créu da moda. Tudo virava música para os animados participantes da Parada Gay. Na estação Paraíso, me assustei com o tumulto causado pelo excesso de pessoas e/ou a escassez de vagões. De qualquer forma, seguimos pela linha verde. No Trianon-Masp já restavam poucos fanfarrões. Eu segui até as Clínicas e fui pra casa. Eles continuaram a festa por horas e horas. Eu fiquei me perguntando quantos deles sabiam que o tema deste ano era Homofobia mata! Por um Estado laico de fato. Talvez não muitos, talvez todos eles, mas naquele momento, acho que o que mais importava era celebrar a diversidade e a tolerância. Fundamentais para a convivência pacífica entre grupos e pessoas tão diferentes.

 

Por Carrô.

Está nas minhas mãos…

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Calma. Não está só nas minhas. Aposto que também está nas suas! Calma de novo. Não é o destino do planeta, a cura da aids, kriptonita ou a melhor banda de todos os tempos da última semana. São apenas…as unhas!

 

É! Aquela lâmina dura, formada de queratina, que recobre a última falange dos dedos e artelhos (amo o Houaiss). Ah, agora você não diga que não tem. Eu tenho, e muita! Cresce com velocidade impressionante, acompanhada da maldita cutícula que chega a doer de tão dura.

 

Pois eu conheço a melhor receita para evitar todo esse incômodo: manicures! Sim, elas mesmas. Com seus adesivos de Hello Kitty colados nos carrinhos de esmalte e nas caixinhas de alicates e lixas, unhas quase sempre mal-feitas, uniformes branco ou rosa e uma recorrente preferência pelas duplas pop-sertanejas.

 

Sempre tive fascinação por este mundo (desconsidere os adesivos e preferências musicais). Por algum tempo, eu mesma fazia as minhas. Mas perdi a mão (calma de novo, de novo. Não houve nenhum acidente!) depois que meu alicate de estimação caiu no chão e entortou. Nunca mais achei um tão preciso e anatômico. Suspeito que o mesmo aconteça com as pinças, assim como acontece com as varinhas de condão. Cada pessoa tem direito a uma só, para toda a vida (ai, que pare por aqui essa teoria. Espero que ela não se aplique a homens). Enfim.

 

Fiquei três semanas (cheguei perto do meu recorde) sem visitar uma delas. Finalmente na segunda-feira, pós-feriado e pós-detonação das lâminas duras de queratina pelo fim de semana no litoral, conheci duas novas: a Carol e Jaque (que fizeram mão e pé, respectivamente).

 

Sim, porque além dos adesivos, uniformes e unhas mal-feitas, elas sempre têm apelidos! Ao ouvir o papo das duas (e das outras 7 que estavam no mesmo salão), tive um estalo cerebral, de raízes antropológicas! Há duas classes trabalhadoras muito unidas no Brasil: a primeira, dos motoboys; a segunda, das manicures.

 

Elas trocaram bases, cores, algodão e palito e falam mal e bem de clientes que acabaram de sair ou que ainda chegarão, tudo com o maior bom-humor. Nunca trocam o alicate, é um fato. Na maioria casos, eles ficam na estufa de esterilização identificados com um pinguinho de esmalte de cor berrante ou com glitter.

 

O cinema já se encarregou de produzir filmes sobre empregadas domésticas, motoboys e até pessoas que usam óculos (“Domésticas”; “Vida Loca (Motoboys)”; “Janela da Alma”). Porém, nunca, nunquinha, nada foi feito para as manicures, as profissionais que embelezam as mãos de todo esse povo que aparece na telona (e de gente como a gente também)!

 

Pois eu aproveito esse espacinho aqui para fazer minha homenagem a elas, que pintaram minha unhinha profissionalmente pela primeira vez, quando eu tinha apenas seis anos e fiz minha primeira participação como daminha de honra em casamentos familiares. Meu agradecimento especial à Carol e à Jaque por terem feito do meu almoço de segunda-feira o momento mais legal da semana até agora (além de me apresentarem a nova música do Edson e Hudson e, num ato de rebeldia, substituírem o “Paris” pela misturinha “Rubi” + “Licor” para as mãos).

 

Post também dedicado a: Dalva (gostava de carne. Só tirava bifes), Simone e Andréa (munharas da biboca. Inesquecíveis), Margot (minha preferida. Só anda de bike, tem um palito preto que custou R$18,00 e uma filha chamada Monalisa), Alecsandra (ama meus anéis, a Betty Boop e é roqueira) e Ilma (não gosta de usar óculos e deixa esmalte para suficiente para duas unhas em cada dedo. Entenda bem: o esmalte fica para fora da unha).

 

Por Má-Má. (with fingernails that shine like justice)

Será?

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Será que eu confio nas pessoas certas?

Será que fiz a faculdade que realmente queria?

Será que estou onde gostaria?

Será que amo a pessoa certa?

Será que desconfio do que é certo?

Será que julguei pessoas incorretamente?

Será que se tivesse outra chance faria diferente?

Será que choro à toa?

Será que rio demais ou me desespero facilmente?

Será que tenho certeza de alguma coisa?

Será que sinto saudades ou quero sentir?

Será que temos coisas em comum o suficiente?

Será que amo ou apenas me acostumei?

Será que preciso ser mais egoísta?

Será que conheço as pessoas que me interessam?

Será que isso é o mais importante?

Será que faço o que gosto?

Será que escolho o certo ou o que quero?

Será que sou fiel a mim mesma?

Será que traio minhas vontades?

Será que guardo meus segredos ou todos já são conhecidos?

Será que torço pelas pessoas que merecem?

Será que me importo com quem se importa comigo?

Será que acredito no Brasil ou não vejo a hora de me mandar daqui?

Será que aceito o fato de sermos tão diferentes?

Será que estou perdendo tempo?

Será que ouço as músicas certas nos momentos certos?

Será que estou perdida aqui?

Será que meus amigos são também companheiros?

Será que me arrependo do que não fiz?

Será que sei o que quero?

Será que mereço o que tenho?

Será que não cansarei de atuar?

Será que creio no que prego?

Será que meu bom-humor não é um escudo?

Será que gosto do que vejo no espelho?

Será que digo o que penso?

Será que vivo coerentemente?

Será que estou satisfeita ou me falta coragem para mudar?

Será que a vontade de ganhar não é frágil?

Será que o medo de perder é sempre real?

Será que sinto falta ou apenas sou educada?

Será que tenho algo a oferecer?

Será que contribuo de alguma forma?

Será que sei quem eu sou?

Será que sei para onde estou indo?

Será que sei onde quero chegar?

 

Por May.

Bom dia, sr. Boneco de Neve!

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Desde a semana passada, quando gentilmente (olha a ironia) cedi um post para a dona Gentileza, presenciei pouquíssimas novas aparições da senhorinha simpática em minha vidinha. Entre “causos” que incluíram bronca da chefe diretamente da terra do tio Sam, semi-proibição do salto alto no escritório (como será feita a fiscalização?), atestado de analfabetismo funcional de profissionais de saúde, pneu furado em plena sexta-feira na marginal e outros que não vale a pena eu comentar aqui, descreverei como começou meu dia hoje (e olha que ele começa cedo).

 

Consegui um lugar privilegiado (entenda: na janela, banco reclinável, cortina que permanece fechada quando os primeiros raios solares nascem no horizonte) no ônibus fretado que me traz ao trabalho. Incrivelmente consegui me ajeitar em poucos minutos, com a bolsa ao lado do corpo, pé no encosto do banco da frente, cabeça na curva da almofada. Aninhei-me confortavelmente, pronta para continuar o sono dos justos interrompido às 5h30.

 

Eis que, lady Murhpy, em forma de boneco de neve humano (ok. Pausa para você criar essa imagem) deu o ar da graça hoje novamente.

 

– Imagine um boneco de neve, composto por duas grandes circunferências empilhadas; a maior representa tronco e membros inferiores (fique tranqüilo. Não darei detalhes sórdidos sobre quaisquer membros); e a menor, a cabeça. Agora imagine essas duas circunferências compostas por pele, carne e osso. Muito mais carne do que qualquer outro elemento, claro. Imaginou? Agora imagine a circunferência menor com bigode, óculos e cabelos grisalhos. Não, o nariz não é uma cenoura. –

 

Agora imagine eu, preparada para não me mexer pela próxima hora, ouvindo um “Licença!” (POR QUÊ!?!? POR QUE PEDIR LICENÇA PARA ALGUÉM QUE ESTÁ DORMINDO?!) e levando um “chega-pra-lá” que tirou meu braço do apoio que separava os dois assentos e expulsou meu pé do encosto do banco da frente. Sim, recebi todos os sinais de que o temido Boneco de Neve também se aninhava no assento vizinho ao meu.

 

Depois disso, uma série de inconveniências tomou curso: walkman altíssimo (o cara é generoso. Deixa todo mundo ouvir junto. Não é Discman, MP3 player ou Ipod. Sequer é um radinho AM/FM de pilha. É um walkman, que – SIM – toca fita cassete e faz um barulho infernal com seus botões!); incessantes fungadas de nariz entupido (claro, um boneco de neve deve ficar gripado em algum momento); cheiro de pão com manteiga e café misturado ao desodorante GPS (aquele que permite você localizar a pessoa a quilômetros de distância); pasta de couro (sintético, óbvio) quase no meu colo.

 

Já fiz testes. Mudo de fileira e até de coluna de assentos, mas o Boneco de Neve sempre me encontra. Será que é pelo meu desodorante!? Só há uma pessoa do mesmo porte que eu (que não ocupa todo o espaço do banco) e ela sobe depois do Boneco. A conclusão: o cara senta ao meu lado porque busca continuar seu próprio sono dos justos (e para isso tem que se sacrificar o meu) ocupando a parte do assento que eu deixo vaga.

 

Desço antes que ele. Todo dia, é o mesmo ritual: gentilmente (de novo!) coloco a mão no ombro do Boneco e digo baixinho: “Com licença. Bom dia.”. Ele acorda tranqüilamente, numa paz irritante. Levanta-se e deseja que eu tenha um bom dia. Às vezes, até comenta do trânsito ou do clima. Dou-me ao direito de não responder. Tenho vontade de dizer que, já que meu dia começou mal, é bom que melhore mesmo! Mas me seguro. Sempre poderia ser pior. A mocinha que discute a relação com o namorado de um ano desde as 6h10, mas não sabe onde ele mora nem o nome de sua mãe, sentou ao lado da máquina de ronco humana, nos primeiros bancos, próximo à monitora Bela Adormecida.

 

Por Má-Má.

 

 

 

O dizer e o fazer

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Hoje acordei estranha e então, estranho será meu post. Quanta distância existe entre os dois verbos desse título? Pára tudo. Ainda falta muita força de vontade ou medo para fazermos o que dizemos? Adoro aquela frase de que o medo é o que faz as pessoas terem limites na vida. Se ninguém tivesse medo de nada, nunca pensariam meia vez para invadir o espaço do outro. Se bem que isso é mais freqüente do que gostaríamos que fosse realmente. Mas por outro lado, imaginem o que seria um mundo habitado por pessoas que fariam tudo exatamente como haviam dito horas, minutos, dias ou anos atrás? Seria muito previsível. Não? Eu não sei por que, mas ao mesmo tempo em que gosto da previsibilidade de algumas pessoas, odeio de algumas.

 

Essa foto eu tirei do meu celular quando passeava pela Av. Paulista. A idéia é ótima: ali era para ter, tinha ou vai ter uma árvore. Isso está sinalizado, praticamente prometido. Para quem? Para todos que andam pela avenida e se surpreendem ao ver uma árvore, ou um projeto dela.

 

O mundo está mesmo acabando? O homem o está destruindo? Quando as árvores existentes não mais serão capazes de purificar nosso ar? Eu quero mais é que todas essas respostas não tenham nada a ver com tudo que o homem anda especulando sobre elas. Mas infelizmente, não consigo me enganar como gostaria.

 

Como boa RP que sou, faço aqui apologia ao discurso alinhado às ações.  Isso porque acredito que muitas vezes as pessoas são melhores do que aparentam ser. Gostariam de ser mais cruéis. Mais más para provar que não são moles, que são independentes do mundo natural em que vivem. Mas gente, não precisa falar que vai plantar uma arvorezinha para compensar todo papel higiênico que você já usou e vai usar na vida. Mesmo porque, para isso, seria necessário plantar um jardim, pelo menos. Então, vamos alinhar nossas atitudes do dia-a-dia ao que pensamos e dizemos para nós mesmos, quando estamos sozinhos. Não precisa anunciar que ao sair do quarto, você apaga a luz ou enquanto se ensaboa no banho, fecha o chuveiro. Apenas do it, meu bem.

 

Hoje acordei um pouco revoltada com os falares e dizeres e especulares e sonhares e poetizares. Eu quero é fazeres, cumprires, resultares, viveres para veres. Ok? Afinal, o jardineiro é Jesus e as árveres somos nozes.

 

Nada de pintar a árvore no chão para dizer que ali será plantada. Apenas plante.

 

E se querem saber: no lugar indicado, foi construído um canteiro de concreto, bem gelado, bem sem vida. Acho que mudaram de idéia quanto à coitada da árvore.

 

Por May.