Arquivo diário: maio 2, 2008

A tudo a gente se acostuma?

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Feriado chuvoso é o momento ideal para pensarmos na vida. Nas coisas boas, nas que queremos melhorar, no que temos feito de bom e ruim e o que ainda queremos fazer. E aí lembrei de um texto que recebi de uma amiga. Sabe aqueles que caem no seu colo e simplesmente dizem tudo o que você está pensando/sentindo, mas não sabe colocar em palavras? Pois lá estava ele. É um texto para a divulgação de uma livraria e não tem o nome do autor, mas é muito bom e eu resolvi compartilhar com vocês.

 

É aquela história… cada um lê do jeito que lhe cabe. Da primeira vez que o li, me bateu uma certa desesperança com as coisas do mundo. Hoje, o encaro como um alerta. Como uma inspiração para fazer cada dia um dia diferente. Leia e compartilhe com a gente o que ele diz pra você? Enjoy!

 

Eu sei que a tudo a gente se acostuma. Mas não devia.

Acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma anão olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender cedo a luz. E à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplitude.

Acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no carro porque não pode perder o tempo da viagem. A comer um sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no carro porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

Acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.

A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. Acostuma a pagar por tudo o que deseja e necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

Acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Acostuma a coisas demais para não sofrer. Em doses pequenas, a tentar não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se a praia está contaminada, molhamos só os pés e suamos no resto do corpo. Se o cinema está cheio, sentamos na primeira fila e torcemos um pouco o pescoço. Se o trabalho está duro nos consolamos a pensar no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, vamos dormir cedo e ainda ficamos satisfeitos porque sempre temos sono atrasado.

Acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Acostuma para evitar feridas, sangramentos, poupar o peito. Acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.

 

 

Por Carrô.