Arquivo diário: maio 30, 2008

Antagonismos

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Corpus Christi é o feriado do JUCA! … não, vamos recomeçar. Essa fase já passou.

Corpus Christi é uma data adotada para comemorar a presença de Jesus Cristo no sacramento da Eucaristia, pela transformação da substância do pão e do vinho no corpo e sangue do Filho de Deus. Ou algo do tipo. É nesse feriado que os católicos ao redor do mundo participam de procissões e ornamentam as ruas com tapetes moldados com serragem, pó de café, cal, flores e corantes, construindo as imagens da Igreja Católica.

 

É nesse feriado também que São Paulo demonstra toda sua diversidade em dois eventos totalmente antagônicos. Para a metrópole, Corpus Christi é sinônimo de festejos que celebram temáticas que nada têm em comum, a não ser a completa diferença uma da outra. Sim, estou falando da Marcha para Jesus e da Parada Gay. E eu, sem querer, vivenciei um pouco do espírito de ambas. Mas não, meus pezinhos não pisaram na Av. Paulista.

 

Explico: na quinta-feira pela manhã, peguei o metrô rumo à estação Pedro II para aproveitar o feriado no litoral. E me dei conta de que enquanto eu pensava no mar, no sol, na cerveja que me aguardavam, muitos dos meus companheiros de vagão estavam com o pensamento em outros assuntos. Eles iriam participar de um ato pacífico, consciente e excitante do mover de Deus em seus dias.

 

E seus participantes, todos vestidos com camisetas com frases religiosas ou com faixas e dizeres em louvor a Jesus Cristo, seguiam em silêncio ou conversavam em voz baixa. E era justamente nessa cena que eu pensava quando, no domingo do mesmo feriado, entrei no metrô Bresser para voltar pra casa. Esperei uns dois minutos o trem chegar e lá veio ele. Colorido, fantasiado, purpurinado e em alto e bom som. Sim, eu estava prestes a participar do “esquenta” da Parada Gay no metrô.

 

Antenas, tecido lurex, cores berrantes e muita animação me acompanharam da linha vermelha à linha verde. Ao descer na Sé, muita gente, muitos gritos de “UHUUUUUUU”, travestis posando para fotos (e logo pensei que esse é o único evento do ano em que eles deixam de ser seres marginalizados pela sociedade), casais em suas mais diversas composições, jovens, crianças, adultos, idosos.

 

No meio daquela muvuca ouço alguém a cantar um clássico dos Mamonas Assassinas: “Quanta geeeentiiiii, quanta alegriiia…”. Olho para o lado e vejo uma senhora que não sabe pra que lado olhar primeiro, se divertindo a valer com toda aquela situação. Ao chegar na plataforma, me senti num parque de diversões! Eu sabia que o trem se aproximava pelos gritos em saudação ao maquinista, ao meio de transporte que os levaria para a parada, em reconhecimentos dos outros grupos que se aproximavam… enfim, tudo era anunciado aos quatro ventos (ou aos quatro cantos, considerando que, no metrô, o que menos havia era ar…).

 

Dentro dos vagões, se cantarolava de clássicos infantis da Turma do Balão Mágico ao Créu da moda. Tudo virava música para os animados participantes da Parada Gay. Na estação Paraíso, me assustei com o tumulto causado pelo excesso de pessoas e/ou a escassez de vagões. De qualquer forma, seguimos pela linha verde. No Trianon-Masp já restavam poucos fanfarrões. Eu segui até as Clínicas e fui pra casa. Eles continuaram a festa por horas e horas. Eu fiquei me perguntando quantos deles sabiam que o tema deste ano era Homofobia mata! Por um Estado laico de fato. Talvez não muitos, talvez todos eles, mas naquele momento, acho que o que mais importava era celebrar a diversidade e a tolerância. Fundamentais para a convivência pacífica entre grupos e pessoas tão diferentes.

 

Por Carrô.